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O professor Fernando Salis, da Escola de Comunicação (Eco) da UFRJ, apresentou em palestra transmitida, quinta-feira, 9 de julho, pela página da Coppe/UFRJ no Facebook, elementos de organização de conteúdo para ensino à distância (EAD), além de técnicas para aperfeiçoar a performance em frente a câmeras e microfones. Salis destacou que muitos professores não estão acostumados com o ensino remoto e foram forçados pelas circunstâncias a um novo aprendizado. “Não se deve ficar ansioso. É um processo, estamos buscando, tentando, aprendendo. O importante é ser sincero no conhecimento que veicula”.

A palestra foi uma iniciativa do Grupo de Trabalho sobre Ensino à Distância (GT-EAD) da Coppe/UFRJ, composto pela diretora acadêmica, professora Lavínia Borges; o diretor-adjunto acadêmico, professor Marcello Campos; o coordenador do Programa de Engenharia Oceânica (Peno), professor Jean-David Caprace; e o professor Edmundo Souza, do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC)

Na opinião de Fernando Salis, toda crise envolve oportunidades e escolhas, e as tecnologias de audiovisual associadas à internet trazem muitas possibilidades para o ensino presencial, o que deverá ser objeto de reflexão quando as universidades puderem pensar a relação entre a presença e a distância.

Salis colocou o papel do professor no ensino remoto como uma questão de performance, em sentido amplo, não apenas de atuação (imagem e ação). “Há toda uma dramaturgia de como usar o espaço. Mas a performance é também questão de desempenho. Somos desafiados a performar o tempo todo. No sentido cultural, temos uma criação e autocriação de nós mesmos e inserção social que pode ser pensada como elementos estéticos. Tem também o sentido organizacional, otimização e organização da força produtiva, e existe o sentido de desempenho tecnológico. Creio que temos que pensar nesses três aspectos, nessa fase que estamos sendo forçados a pensar em atividades remotas e EAD”.

Neste sentido, do EAD como performance, Salis alertou que o educador deve ter atenção com o cenário onde será feita a transmissão, o figurino e elementos de construção do corpo humano (maquiagem, cabelo, acessórios). Segundo o professor, é preferível que o fundo da gravação seja neutro. “Muita gente não pensa na composição desse quadro. É melhor evitar fundos com muitas informações visuais. Menos é mais. O ideal é não dividir a atenção do que está sendo veiculado e que o fundo não distraia a audiência”, explicou Salis, com a ressalva de que o cenário pode ser composto com pequenos objetos de cena que sejam importantes para demonstrações.

“O figurino também é importante. A roupa escolhida pode dizer algo sobre você ou sobre o assunto. Mas se o interesse não é veicular uma mensagem, o ideal é que a roupa seja neutra, para não desviar atenção. O mesmo raciocínio se aplica em relação aos acessórios. E a luz no ambiente de gravação/transmissão deve ser o mais homogênea possível, que preencha o espaço com poucas sombras, que possa ver o rosto e não uma silhueta”, acrescentou o professor.

A importância da postura, respiração e voz

Salis foi enfático ao dizer que no ensino remoto os professores devem cuidar de um equipamento em especial: o próprio corpo. “Essa autoconsciência não costuma ser muito comum. Manter o corpo saudável, alongado. O alongamento é muito importante, não estamos acostumados a lubrificar as articulações de modo a deixar o corpo preparado. É importante fazer exercícios de respiração, e não estamos habituados a isso. Exceto quem faz yoga, tai chi chuan ou canta”.

O professor enfatizou ainda a importância da prática de exercícios de respiração para controlar a ansiedade e melhorar a projeção da voz. “A respiração é a base da nossa energia, é o veículo de nossas emoções. Ela conforma, esteticamente, nossa fala e discurso. É um elemento dramático, e de pontuação, de estética, ritmo, sentido do que quer se dizer. É importante fazer alongamento para preparar o corpo e exercícios de voz e de autoconhecimento pela respiração, inspirar e expirar devagar, para perceber nossa capacidade pulmonar e como conseguimos gerenciar essa respiração, além de manter o aparelho fonador e respiratório livre. Os exercícios de respiração e alongamento ajudam a controlar ansiedade, quando se tornam um hábito. Não são um remédio para curar a ansiedade logo na primeira vez”, ensinou.

“O olhar também é muito importante. Esse quadro fechado (da transmissão feita via Zoom) é como se estivesse falando de perto, com intimidade, como se estivesse a um metro. É muito importante que se olhe para a câmera. Você passa menos credibilidade quando evita olhar interlocutor, desvia o olhar para os lados. O olhar deve estar a 2/3 do quadro e a câmera levemente mais baixa do que o expositor. Deve-se evitar passar as mãos em frente à câmera. É bom usar gestos, mas com comedimento”, recomendou Fernando Salis.

Salis destacou ainda que os professores devem caprichar na postura perante a câmera durante as gravações. “Não esteja torto, travado, curvado, nada impeça boa respiração. Sente-se de maneira confortável, em uma posição que te deixe livre para movimentar e que respire bem”.

O professor de Comunicação sugeriu ainda que os professores dediquem atenção ao roteiro das aulas que ministrarão remotamente. “O roteiro é a organização no tempo do conteúdo. É muito importante roteirizar aulas, conferências, cursos. É fundamental pensar o tempo nessas atividades de EAD, é diferente pensar o tempo nessas atividades do que no presencial. É importante ter capacidade de síntese”, prescreveu Salis, em cuja avaliação as aulas devem ser curtas. “Sendo bem generalista, de 20 a 30 minutos dá para passar muita coisa”.

De acordo com o diretor-adjunto acadêmico da Coppe, professor Marcello Campos, os docentes estão sendo obrigados, pela pandemia, a promover uma mudança na forma de entregar a aula. “Como fomos pegos de surpresa, os professores tiveram de aprender várias coisas, tanto na parte da tecnologia, no uso de diversas ferramentas para a comunicação remota, como na técnica de como se portar diante da câmera, como usar o microfone, como se vestir, onde colocar o computador”.

“A gente não sabia que essas coisas seriam um problema e a palestra do Fernando (Salis) nos ajudou com ensinamentos, conselhos, exercícios para melhorar a dicção. Fernando é professor e também cineasta, trabalhou com TV, e capacitou professores no ensino à distância, no âmbito do Cederj. A sua contribuição foi muito importante”, avaliou o professor Marcello Campos.

A palestra “Performance em EAD: roteiro, imagem e voz” está disponível, na íntegra, no Facebook e também no YouTube.