O que me moveu, inicialmente, não foi tanto o "sonho de carreira" tradicional, mas a curiosidade científica. Em 2006 eu terminei a graduação na USP e queria me especializar no estudo das ondas e análise de eventos extremos. Como a COPPE é referência internacional no assunto, com diversos professores e pesquisadores nessa área, eu sabia que era o lugar certo para estar. Foi então que iniciei em 2007 o mestrado no PENO/COPPE com o Professor Parente. Além disso, a COPPE tem uma combinação muito boa, que é unir o desenvolvimento científico com as aplicações para a Indústria. Na minha área, Engenharia Oceânica, o desafios são enormes e isso impulsiona a pesquisa. Outro ponto importante é a multidisciplinaridade. Em 2010 e 2011, já no doutorado, eu fiz uma disciplina de data mining com o Professor Evsukoff e duas disciplinas de redes neurais com o Professor Caloba. A união dessas novas ferramentas com o conhecimento da parte oceância foi um grande fator para as portas se abrirem para mim nos anos seguintes.

Depois do mestrado eu trabalhei no CENPES/Petrobras, com grande interação com o CHM/Marinha. Essa foi outra grande escola de aprendizado, muito importante. Junto com o doutorado na COPPE eu fiz o doutorado em co-tutela no IST, em Portugal, que aprofundou bastante a teoria na modelagem estatística de ondas. Nesse mesmo período de doutorado eu também estive um ano na NOAA, nos EUA, fazendo o doutorado sanduiche, onde tive uma excelente orientação em modelagem numérica de ondas. Foram muitas mudanças, vistos e burocracias que cansam, mas valeu a pena pois sinto que extrai o melhor de cada instituição. Depois do doutorado trabalhei 6 meses na DNV, em Londres, e depois retornei à pesquisa acadêmica, que eu gosto tanto. Ainda estive dois anos mais, em 2017 e 2018, nos EUA fazendo o pos-doutorado com inteligência artificial aplicada à previsão de ondas. É interessante pois, conforme se investe na formação profissional, o tempo passa e a ciência e o mercado mudam durante esse caminho, o que exige um certo dinamismo e adaptação rápida.

O primeiro conselho é que cuidem do tempo. A forma como se investe o tempo precisa ser planejada para otimizar a formação na área que se tem interesse. De forma alguma isso quer dizer "trabalhe muito", eu sou completamente contra a ideia (que está na moda) "work hard and play hard". Nem sempre a mente e o corpo permitem trabalhar duro. Trabalho em excesso só gera stress, que é o maior inimigo da criatividade e da saúde. Estude concentrado, de maneira organizada e com persistência a longo prazo, que é muito mais importante.
O segundo conselho é que invistam na formação teórica. Há uma ideia por aí de que se você quer trabalhar com engenharia aplicada, não precisa ter atenção à matemática pura ou à física. É uma ideia completamente equivocada. Invista em aprender cálculo, algebra linear, estatística, física, pois isso vai fazer muita diferença no futuro. Se você acha que ficar fazendo cálculos simples em uma planilha excel no Windows vai te levar a algum lugar, tenha atenção pois provavelmente em 10 anos o seu trabalho vai ser substituído por um robô.

Entrei na UFRJ muito novo e não sabia bem o que queria para minha carreira, mas sabia que a engenharia poderia me proporcionar um leque muito amplo de opções, incluindo trabalhos que possibilitassem conhecer o mundo. Na época, estudar e trabalhar fora não eram tão simples assim. Gostava muito de matemática e física e via a engenharia como aplicação dessas artes. A escolha pela engenharia naval só veio depois da conclusão do ciclo básico.

Me formei e fui trabalhar no estaleiro, mas assim que surgiu uma possibilidade para um mestrado no exterior, eu aproveitei. Fiquei 8 anos lá fora e acabei gerenciando equipes na Suécia, na França e no México. Quando voltei para o Brasil, estava animado para experimentar tudo que vivi e aprendi.

Valorizar os estudos e os professores. Encontrar o balanço entre vida acadêmica, estágio e vida pessoal. Ler bastante livros que não sejam relacionados a engenharia. Participar de associações como Liga Naval. Entender que estudamos às custas do contribuinte e temos o dever de retornar para a sociedade.

Não sei se isto é um ponto positivo ou negativo, mas quando entrei na UFRJ com 18 anos, eu não tinha exatamente um sonho de carreira. Eu não tinha um futuro desenhado na minha mente. Eu apenas tinha certeza de que queria fazer engenharia e que esta engenharia era a naval. Eu tinha verdadeira paixão por navios mas não sabia exatamente como isto iria fazer parte da minha vida. Poderia ter sido embarcando em grandes viagens, mas este sonho certamente não era a realidade. Eu acho que fui desenhando o futuro enquanto estudava. Na faculdade, fiz muitos cursos relacionados à embarcações de passeio em fibra de vidro. Mas a minha realidade profissional ne fez trabalhar muito mais com as grandes unidades offshore. Escolhi fazer engenharia pelo motivo simples de ser uma pessoa completamente de exatas. Mas descobri com o tempo, que não seria outra coisa na vida além de engenheira.

Eu me formei em uma época em que a indústria naval já estava começando a dar sinais de crise. Não eram dias fáceis. Mas, felizmente, eu me considero uma das pessoas privilegiadas no mundo: eu fui contratada pela empresa onde estava estagiando (e onde estou até hoje). Recebi a ligação do meu chefe no dia da minha formatura. Acho que foi um dos melhores telefonemas da minha vida. Quem não quer se formar e ter um emprego? Embora a crise tivesse dando sinais de que ia chegar, a gente estava com alguns bons trabalhos e estes garantiram a minha contratação. Sendo assim, o meu caminho foi continuar dentro da engenharia da Sociedade Classificadora onde trabalho, o American Bureau of Shipping, aprovando planos, desenvolvendo projetos, liderando uma equipe de engenheiros, etc. Sempre fiz de tudo que foi solicitado, sem distinção entre trabalhos mais nobres ou menos nobres. Todos eles me ajudaram a diversificar meu conhecimento e a chegar onde estou hoje.

A geração atual parece saber muito mais o que quer do futuro do que a minha. Pelo menos, ao meu ver, parece saber bem mais do que eu sabia quando me formei. Mas é também uma geração muito mais imediatista. Esta característica pode dificultar um pouco “curtir a caminhada” na carreira profissional. Então, eu aconselharia a serem mais pacientes, resilientes e a terem muito espírito de trabalho em equipe. A gente precisa de tudo isso. Tudo isso junto com esta garra, esta força e este preparo (técnico e intelectual) dos recém formados. É uma caminhada e ela é longa. É preciso curtir o passeio sem pressa.

Eu sou professor efetivo da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) desde 2010 e nesta universidade eu me graduei em Engenharia Mecânica e fiz o mestrado em Modelagem Computacional. No fim de 2013, ano em que retornei de um curso na Bélgica sobre projeto de embarcações (meu primeiro contato com a área naval) eu me encontrava inquieto buscando um programa de doutorado em que eu pudesse adquirir conhecimentos mais aprofundados na área naval e também aproveitar a minha formação até aquele momento. Uma motivação extra era a recente criação do curso de Engenharia Mecânica Naval, no qual eu seria responsável, entre outras, pela disciplina Máquinas Marítimas. Assim, quando decidi cursar o meu doutorado na UFRJ/COPPE, em 2014, eu buscava adquirir conhecimentos mais aprofundados nas áreas de Propulsão e Geração de Potência Marítima e vi a oportunidade perfeita na linha de pesquisa Máquinas Marítimas do PENO. Eu vislumbrava dominar o conteúdo que eu lecionaria e me tornar um pesquisador reconhecido nas áreas mencionadas para futuramente ingressar como professor em um programa de pós-graduação.

Após o término do doutorado, em 2018, eu já havia publicado artigos em congressos nacionais e internacionais e também em periódicos da área. Além disso, eu ainda possuía material para alguns artigos que foram publicados em periódicos bem conceituados após o período doutoral. Deste modo, em 2019 eu ingressei como professor no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Oceânica (PPGEO) da FURG, onde já estou orientando e co-orientando vários alunos de mestrado.

A lição que eu recebi e que eu gostaria de deixar registrada é: corram atrás de seus sonhos; corram atrás de uma carreira profissional promissora, fazendo o que vocês gostam. Nunca é fácil, mas o caminho é a dedicação e a busca de profissionais dedicados que te conduzirão até o seu objetivo. Esses profissionais eu encontrei na FURG (graduação e mestrado) e na UFRJ (doutorado), ou seja, em instituições de ensino sérias. Pode até ter parecido, mas não foi fácil decidir deixar a minha pequena cidade natal (Rio Grande) no sul do Rio Grande do Sul e ir para a grande Rio de Janeiro, conhecida nacional e internacionalmente pelas várias atrações turísticas. Entre outras coisas, tinha o medo que a minha esposa sentia da famosa violência das cidades grandes. Porém, todos os problemas foram superados e eu posso dizer que os 4 anos que passei no Rio estão entre os melhores da minha vida. Lá eu fiz grandes amigos; alguns na universidade e outros fora dela. Para vocês terem uma ideia, minha esposa diz até hoje que moraria lá.

Desde criança eu tenho um fascínio pela área científica. Sendo assim eu visualizei diversas alternativas de carreira (algumas mais voltadas para ciência fundamental e outras mais aplicadas). Pouco antes do meu vestibular eu busquei informações sobre opções de carreira que pudessem satisfazer minha curiosidade científica. Minha primeira escolha foi pela engenharia (área mais aplicada) e em seguida, dentro das diversas especializações possíveis, eu optei pela Engenharia Naval pois já se falava na época (por volta de 1996) de um potencial crescimento da exploração off-shore em águas profundas (também tenho muito interesse pelas novas tecnologias). E foi assim que eu ingressei na UFRJ, tendo escolhido como primeira opção a Engenharia Naval, o que não era tão comum na época.  Mas com 17 anos eu não podia imaginar o que aconteceria na minha carreira, eu simplesmente alimentava um sonho romântico de poder me sustentar trabalhando com o que me deixava realizada. Hoje, em retrospectiva, penso que talvez tenha sido esse “romantismo”, ou seja, a paixão pelo meu trabalho que tenha me proporcionado tantas oportunidades de crescimento profissional.

Antes de me formar já havia um “boom” na área offshore e eu, assim como meus colegas, não tive muita dificuldade em conseguir um estágio em uma empresa multi-nacional onde eu fui efetivada mesmo antes da formatura. Dentro dessa empresa eu tive inúmeras oportunidades inclusive de desenvolver uma carreira internacional tendo morado na França e nos EUA. Eu trabalhei em diversas funções, desde engenheira de projetos, pesquisadora, gerente de P&D, diretora. Eu pude viajar, conhecer profissionais brilhantes com quem aprendi bastante e desenvolver competências tanto na área técnica quanto de gestão. Eu sou grata por todas as oportunidades que me foram oferecidas nessa primeira empresa onde permaneci por 19 anos. Recentemente, resolvi fazer uma mudança na minha carreira para me dedicar novamente a uma tecnologia em fase de desenvolvimento que são as plataformas eólicas flutuantes. Continuo trabalhando na área técnica como gerente de engenharia agora baseada na França.

Na verdade a escola de engenharia nos prepara para vários caminhos possíveis. É importante saber em que área nos sentimos bem (ex. área técnica, gestão, etc). Na vida nós sempre nos vemos obrigados a fazer escolhas. É importante escolher o que nos motiva profissionalmente, aquilo que nos aguça a curiosidade (qualidade que julgo das mais importantes para um engenheiro), aquilo que nos impulsiona a não ficarmos na superfície das coisas. Tendo feito uma escolha pessoal deve-se manter o foco no presente pois é nesse momento que as oportunidades vão aparecer e é preciso estar atento para saber identificá-las.

Ao escolher o curso de Engenharia na UFRJ, meu sonho era ter uma formação de alto nível e desafiadora, que me permitisse “construir coisas” e ter um emprego em uma empresa de primeira linha. Além de matemática ser minha disciplina favorita, tinha grande admiração pela engenharia, pelo que via como o mistério de produzir coisas concretas a partir de ideias. Queria produzir algo tangível, como prédios, pontes ou navios. Acabei optando pela Engenharia Naval, pela multiplicidade de temas que envolvia.

A época era de uma grande crise no setor, com estaleiros fechando ou em declínio e não fui contratada no meu estágio. Optei pelo mestrado na Engenharia Oceânica/COPPE em uma área pela qual tinha grande interesse, e ainda hoje sou apaixonada, a de Transportes Marítimos, que liga conceitos de engenharia e economia. Esse tema abrange desde a análise de demanda e das rotas, desenho do casco, definição do motor, velocidade e consumo, até ciclicidade de mercado e custo de capital, com aprofundamento em disciplinas como Análise de Investimentos e Pesquisa Operacional, cobrindo otimização de ativo e retorno sobre capital.
Tentei um concurso para o BNDES para o qual não passei, mas que me trouxe ainda maior conhecimento da área de investimento, e acabou me levando a fazer, junto com o mestrado, uma pós-graduação em Engenharia Econômica e Administração Industrial. Essa formação foi vital na minha carreira, agregando importantes elementos de gestão da produção, e a qual devo boa parte dos meus fundamentos em Operação. Algumas dessas disciplinas deveriam constar na formação básica de todo engenheiro, inclusive a clássica simulação de um processo produtivo do Prof. Eduardo Jardim com as peças de Lego.
A partir daí, pude aplicar meus conhecimentos e seguir aprendendo em empresas grandes e outras pequenas, tanto familiares, quanto abertas, brasileiras e multinacionais.
Sou muito grata àqueles mestres da Universidade que me trouxeram conteúdo com entusiasmo e dedicação, a exemplo dos professores Luiz Felipe Assis, Paulo Roberto Moraya, Sérgio Sphaier, Mario Petzhold e Raad Qassim.

Sonhamos com base no que conhecemos, mas a realidade, na maior parte das vezes, nos tráz caminhos diferentes. Abrace-os com vigor, sorva todo o conhecimento possível em cada oportunidade que tiver. Não foi à toa que você passou por tantos obstáculos na faculdade para se formar. Use isso para aceitar desafios profissionais, ter capacidade de buscar conhecimentos complexos, entender sempre o contexto geral, mesmo que sua parte seja pequena no início ou em qualquer momento.
Pense e aja como um engenheiro. Qualquer que seja a sua função, entenda as condições de contorno, as alavancas, o balanço de forças, as restrições. Atue para resolver problemas, para agregar, aprendendo com os erros, entendendo qual a Função Objetivo, juntando todas as informações possíveis com as melhores ferramentas que você dispuser, buscando ainda novas ferramentas e soluções. Mobilize pessoas e recursos em prol do progresso individual ou do grupo, da sua empresa e de seu mercado.
Cuidado com a arrogância cognitiva. Não menospreze nenhuma atividade ou pessoa, tudo pode ser fonte de conhecimento. Estabeleça limites com base nos seus valores, e que esses sejam inegociáveis.
Leia muito, conheça o negócio, o mercado, e a si. Seja gentil com as pessoas, não se leve tão a sério, e se divirta.
Retribua o ensino gratuito e de excelência que a sociedade te ofereceu. Valorize os grandes mestres que você encontrou e vai encontrar, aproveite-os ao máximo, e cobre o mesmo padrão de compromisso daqueles que porventura não tenham a mesma dedicação. A partir do momento em que entramos na faculdade pública, ocupando uma vaga de estudante de engenharia e uma cadeira na sala de aula de uma Universidade Federal, temos um dever para com o investimento que está sendo feito na gente, em detrimento de em outros estudantes que não conseguiram a vaga, ou mesmo de em outras rubricas do orçamento da União. Portanto leve a sério seu compromisso com o progresso do país pelo resto de sua carreira.